terça-feira, 30 de agosto de 2011

Nós, meio intelectuais, meio esportistas



Em homenagem a Marina Rodrigues, pequena Marina, que me presenteou neste belo domingo com os textos inteligentes, divertidos, meio intelectuais e meio de esquerda do Antônio Prata.

Já diziam os gregos, que inventaram a filosofia, e também as olimpíadas, mente sã e corpo são (embora eu tenha dúvidas sobre eles terem dito isso mesmo). Hoje, enquanto subia com a minha Amélie pelas tortuosas subidas da Apinajés, e tentava soltar o freio o suficiente para eu não capotar nas íngremes descidas da mesma ruazinha (demônia) a caminho da casa de uma querida amiga, me dei conta que eu fazia parte de um grupo feliz, os meio intelectuais meio esportistas.

Nós, meio intelectuais, meio esportistas sentimos essa necessidade absurda de relatar e explicar com palavras todos os eventos, esportistas ou não, da nossa vida. Por isso a gente cria um blog, ou compra um diário, num caso de sermos um tímido intelectual esportista.

Nós damos nomes de heroínas de filmes franceses para as nossas bicicletas, corremos na esteira da academia ouvindo Lenine, Secos e Molhados, Queen e Los Hermanos (e Beatles é claro!), e provavelmente somos vegetarianos. Ou semi vegetarianos. E dependendo do público alvo, a gente justifica o fato de não comer carne por estarmos preocupados com nossa saúde e longevidade, ou assumimos como que num desabafo que na verdade a gente tá cansado de observar o crescimento preocupante do desmatamento no Cerrado ( sim, é tão importante quanto a Amazônia- e a Caatinga- claro) por conta da pecuária, que além de desmatar e contribuir pro efeito estufa, ainda é uma crueldade com os animais. Ó, seres humanos egocêntricos antropocêntricos e sem o menor bom senso. Sim meus caros, nós, meio intelectuais meio esportistas somos muito ambientalistas.

Mas é claro que nós meio intelectuais, meio esportistas não estamos tão preocupados com os impactos ambientais da gestão inadequada da água nas cervejarias numa sexta feira a noite num bar da Augusta. Afinal, como conseqüência da nossa metade intelectual, somos completamente a favor da boemia. E nos consideramos uma parcela invejável da população que sabe combinar muito bem a saúde com o nível alcoólico adequado em ocasiões necessárias, como happy hours, barzinho com os amigos, passeios de fim de semana pela Paulista, num Sábado a tarde na Benedito Calixto, ou em qualquer manifestação de cunho intelectual, ou cunho ambientalista, churrasquinhos vegetarianos, churrasquinhos normais que têm mandioca, noite do vinho e queijos, jantar com amigos, enfim. Há sempre uma boa oportunidade para a boemia saudável em nossas vidas. No dia seguinte, não tem nada mais revigorante que tomar uma hidratante água de côco.

Nós meio intelectuais meio esportistas também achamos que bar ruim é lindo. Mais do que isso, achamos que pra dançar a gente não precisa ir pra uma balada eletrônica que custa caro, onde os esportistas usam camiseta baby look para mostrar seu empenho, e as esportistas mini saiais ousadas pra mostrar que estão com a dieta em dia. Somos meio esportistas pelo estilo de vida, e não pela bundinha sarada, e desprezamos qualquer julgamento por conta da aparência. A gente gosta de sambar, dançar forró, bater a cabeça em show de rock, e acredita que o boteco mais escondido da Vila Madalena tocando Chico Buarque é um programa eletrizante que pode durar a noite toda.

O ápice ideológico ativista de um meio intelectual, meio esportista é a descoberta da bicicleta. De bicicleta pelo caos da cidade grande, nós, meio intelectuais, meio esportistas sentimos que estamos fazendo algo para mudar o mundo. Sobre as duas rodinhas da nossa bike, a qual damos nomes divertidos, inteligentes, intelectuais ou piadísticos, sentimos que estamos jogando na cara da British Petroleum que somo muito mais poderosos do que ela, sentimos que estamos um passo a frente dos motoristas congestionados parados no trânsito (Metaforicamente. Literalmente, normalmente estamos muitos passos à sua frente) e que além de tudo estamos ficando mais velhos com mais saúde, e vivendo a vida com muito mais adrenalina. De bicicleta nós, meio intelectuais, meio esportistas, sentimos que estamos lutando no coletivo contra um sistema capitalista que não funciona, e de repente, a gente sente vontade de que todos no mundo se sintam meio intelectuais, meio esportistas e principalmente meio ciclistas. Sim, nós meio intelectuais, meio esportistas também somos meio de esquerda.

E por fim, as últimas considerações que me vêm à cabeça sobre o meu grupo imaginário dos meio intelectuais, meio esportistas é que eles são ótimas companhias para quaisquer tipo de meio intelectuais pois estão sempre cheios de energia (e quem não é meio intelectual hoje em dia?). Mas só um legítimo meio intelectual meio esportista é capaz de passar tanta tempo pensando em um tema bom o suficiente para escrever um texto que lembre um cronista meio intelectual meio de esquerda enquanto enfrenta uma íngreme subida na capital paulistana em cima de sua bicicleta. E chega em casa cansado mas tinindo, trincando (Ah, os velhos Novos Baianos!), certo de que teve uma idéia genial no caminho, liga a TV e deixa no Telecine Cult, e escreve um texto sobre os meio intelectuais meio esportistas, enquanto ouve as músicas melosas do único filme musical do Woody Allen- onde aparece um monte de ator famoso dançando, cantando e até voando.

domingo, 28 de agosto de 2011

Meu fabuloso destino com a Amélie...


























Prefácio: É oficial, não é mais possível me imaginar sem a minha bicicleta.



Capítulo 1


Com menos de uma semana de vida, a Amélie passou dois dias e meio aguardando um pedal novo, vendo o mundo de dentro do seu cantinho da sacada. Parece história de filme de comédia, mas até pra arrumar seu pedalzinho, ela passou por apuros.


Tudo começou quando eu e o Gui, que ofereceu a carona amiga, tentamos colocar a Amélie dentro do carro. Primeiro, parecia que não ia caber, então o Gui tentou tirar a roda da frente. A gente não teve muito sucesso, e uma molinha bem pequena e quase invisível saltou de dentro do que eu chamo de “parafusinho preto” que conecta a roda, o eixo, o amortecedor e tudo aquilo que eu AINDA não sei o nome. Em busca da molinha, com o carro parado em frente à entrada da garagem do prédio, “relaxa Gui, ninguém vai entrar nesta garagem na hora do almoço”, mobilizamos a única família que resolveu, sim, usar a garagem na hora do almoço, e o porteiro também. Poderia até ser que o Murphy tenha enviado a família naquele momento de relativa tensão, mas na realidade aconteceu um destes eventos onde é inevitável proclamar o clichê: “Mas que mundo pequeno!”. A família tratava-se de um casal de um brasileiro e uma italiana, e suas filhas. A italiana é amiga da irmã do Gui, e morou na Holanda na mesma época que a família dele morou. Hoje eles moram no mesmo prédio que eu, e a Amélie, moramos. O que significa que a minha bicicleta ganhou mais simpatizantes, e nós ganhamos mais ajuda para achar a pequena mola fugitiva. O mundo pode até ser minúsculo, mas eu não tenho dúvidas de que as bicicletas encurtam ainda mais as distâncias, pois têm esse extraordinário talento para reunir pessoas.....quem já pedalou, com certeza me entende.


O porteiro encontrou a molinha, e seguimos rumo a bicicletaria. E durante o caminho, que durou mais de meia hora devido ao trânsito congestionado no minhocão e na Matarazzo (sem preconceitos, apenas um comentário aleatório), a corrente da marcha caiu. Mas deu tudo certo, colocaram pedais novos na Amélie, consertaram a corrente, e na volta do conserto ela caiu de novo.


Eis a cena: Uma menina de roupa social (Por que justo hoje eu escolhi esta blusa branca?!), arrumando a corrente com as mãos cheia de graxa com a bike encostada num muro de uma casinha cheia de plantas. Até hoje eu não sei como aconteceu, mas de uma maneira muito misteriosa, girei o guidon em 360 graus, sem perceber (?!?!) e estraguei o freio da roda da frente. Como os freios de trás ainda funcionavam, e a corrente estava aparentemente no lugar certo, continuei pedalando até a empresa onde pedi a ajuda do bikeanjo/mecânico da Amélie.


Foi quando eu descobri que pedalei 20 minutos com o guidon girado. E consertamos o freio da frente temporariamente com uma gambiarra que eu não conseguiria explicar com palavras neste texto. E finalmente (acho até que ouvi som de tambores a rufar), a Amélie estava pronta para continuar suas pedaladas paulistanas, e eu estava começando a pensar em comprar um destes colares que estão na moda, que vêm com uma pitadinha de sal grosso.



Capítulo 2


A minha emoção com as primeiras pedaladas tiveram uma repercussão que eu nunca esperei. Algumas pessoas se identificaram, outras até disseram que se inspiraram. Sinceramente, é muito orgulho ouvir qualquer tipo de comentário sobre este assunto, não tem como não lembrar das mensagens que recebi aprovando e incentivando o meu novo projeto de vida e não abrir um sorrisão, no rosto, e um invisível que vem de dentro do coração. E a cada mensagem e comentário sobre o meu texto, mais vão fazendo sentido para mim as palavras sobre querer me tornar uma destas pessoas.


Além da alegria, veio o alivio. Toda a minha família, que agora está moderna e faz parte das redes sociais, leu o meu texto via facebook, e contrariando as minhas expectativas, se embalaram na minha emoção. As pedaladas foram aprovadas até por aqueles que mais têm medo de me ver levando tombos (literal e metaforicamente), meus pais. Aliás, os dois ficaram tão felizes por mim, que me senti mal de ter desconfiado que poderia acontecer o contrário. As titias também adoraram a minha história e na família inteira, todos já ouviram falar da Amélie, alguns até vieram até São Paulo e tiveram o prazer de conhecer “a boneca”.


Quem mais me impressionou com a sua sensibilidade foi a Tata, que me encorajou a escrever mais sobre o assunto. Me disse que eu poderia ser lembrada no futuro por escrever “crônicas” desta minha nova realidade, que representa todo um anseio da minha geração por uma cidade melhor para todos, numa nobre luta por mudanças. Por ela, eu tive coragem de continuar escrevendo sobre o assunto. Que fique claro, não para ser lembrada, mas para fazer parte da luta por uma cidade melhor para todos, e na esperança de incentivar mudanças. Nós, geminianos natos, adoramos e incentivamos as mudanças, especialmente estas que fazem você se revigorar e se sentir mais vivo.


Capítulo 3


Eu estou começando a entender melhor minha bicicleta, e nós duas, estamos aprendendo melhor nossa cidade. Não temos mais medo do trânsito, e começamos a lutar pelo nosso espaço e pela convivência coletiva.


Alguns motoristas são chatinhos, e buzinam irritados. A gente manda um bom dia para eles. Felizmente, o desprazer do fom fom dos mal humorados dura no máximo 10 segundos, ou o tempo para você repetir mentalmente “seu bobo”; mas ontem ao terminar a subida mais intensa do meu caminho trabalho-casa, um motorista sorridente me chamou: “Moça (só sorrisos!) olha lá meu adesivo no carro atrás”e me deparei com o famoso “Ciclista na Via, é lei, dê preferência” em cor laranja berrante em contraste com o fundo preto do carro. Agradeci e sorri feliz. E até agora não esqueci a boa sensação que ele me passou. Pois é motorista mal humorado, sinto informar, mas perdeu playboy.


Participamos do Mão na Roda, a oficina voluntária do Ciclocidade que ensina o ciclista a consertar tudo e mais um pouco, e no nosso caso, nos ajudou muito a encontrarmos as melhores combinações das marchas. E mais importante, a oficina está lá cheia de pessoas, estas pessoas sorridentes, pacientes, inteligentes, que estão dispostas a te ajudar o máximo possível para que você continue tendo o prazer de pedalar. Agora o freio da Amélie não é mais feito de gambiarras.


Também percebemos que tem muito mais ciclista no mundo do que poderíamos imaginar, os que já são e todos aqueles que ainda serão. Quando você começa a prestar atenção e quando toca no assunto, percebe que tanta gente já pedala, ou gostaria de pedalar. Neste Sábado mesmo falei com o maior orgulho do bikeanjo para a coordenadora da atividade voluntária da minha empresa que disse que acabou de comprar a bicicleta mas ainda estava com medo de enfrentar o trânsito para ir trabalhar. Eu falei como se fosse tão experiente, que chega a ser engraçado, mas ela sorriu de alegria ao saber que era mais fácil do que ela pensava realizar este novo plano.


No último mês, eu e a Amélie conhecemos a Vila Madalena sobre duas rodas, descobrimos a importância do paralamas em dias de chuvas, fomos jogar sinuca enfrentando as subidas da Pompéia, conhecemos novos bikeanjos, exploramos novas e maiores subidas (hoje em dia, faço as aulas da academia pensando num único objetivo: melhorar minha resistência em toda e qualquer subida), já fomos até para o bar especial meu e da Paulinha na rua Augusta (onde a Amélie abraçou sua primeira árvore e fez um social na frente da entrada do bar, junto com as pessoas que estavam esperando pra entrar), sonhamos sobre como ela vai ficar bonita com seus alforges e sua cestinha, e o mais especial de tudo, a Amélie se emocionou com a sua primeira bicicletada. Mais uma vez centenas de ciclistas juntos, jovens, crianças, experientes, inexperientes, turistas, paulistanos, tímidos, extrovertidos, sérios, elegantes, alternativos, interioranos, brincalhões, animados, ousados, cautelosos, e até cachorrinhos ciclistas, enfim, todos diferentes e iguais, e pedalando por menos motor, mais amor, menos gasolina mais adrenalina, e menos carros e mais, muito muito mais bicicletas.


Com tanta alegria que esta bicicleta tem trazido para minha vida, caro leitor, não poderei lhes apresentar nenhum capítulo final....


quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Pedalando em voz alta


É realmente impressionante o que uma bicicleta pode fazer por você. E digo isto sem hiperbolismos característicos da minha personalidade emotiva, romântica, exagerada, artista... enfim, geminiana.

Eu lembro até hoje de quando pedalei minha primeira Ceci, cor de rosa, com cestinha, lá em frente de casa em Andradina. E claro que foi a coisa mais emocionante do mundo, circular pelo quarteirão com o presente de Natal mais legal que eu já havia ganhado. Lembro que passou uma pessoa na rua, olhou pra mim e disse: alguém ganhou uma bicicleta de presente de natal adiantado (faltavam umas duas semanas pro 25), e eu fiquei com vergonha. Aí eu fico a imaginar onde foi que a empolgação de ganhar uma bicicleta se perdeu no tempo, mas esta é outra história.

Eu nunca achei que o passeio turístico mais interessante de São Paulo poderia ser a Bicicletada, que acontece toda última sexta feira do mês saindo da Praça do Ciclista, estrategicamente localizada no início (ou fim) da Avenida Paulista, na frente do metrô Consolação. Em Julho, saíram umas centenas de bicicletas para passear não só pela avenida mais cheia de vida deste mundo, mas para vivenciar em grande estilo o centro velho da cidade que eu mais amo no Brasil. Paradinha na Praça da Sé, e definitivamente alguma coisa aconteceu no meu coração quando eu cruzei a Ipiranga e a Avenida São João pedalando, ouvindo um chorinho tocando na porta do Bar Bhrama, enquanto a massa se unia para impedir os carros de passarem. Haja sensação boa de sentimento coletivo, como podem tantas pessoas legais se reunirem em um só lugar! Eu só conseguia pensar em quando eu ia comprar a minha bicicleta, a minha Amelie (sim, eu já tinha encontrado até um nome para ela!).

O plano da bicicleta tinha sido adiado para mim, em nome do aniversário da minha mãe. Valeu a pena, porque ver a pessoa que te deu a sua primeira bicicleta chorar de emoção porque você está dando a última bicicleta que ela esperava na vida dela traz uma satisfação indescritível.

Mas depois da bicicletada ficou impossível adiar a compra da minha própria magrelinha, e eu perdi qualquer boa desculpa que havia surgido naquele sábado chuvoso e fui em busca da minha Amelie, uma Amelie que coubesse no meu orçamento, claro. E comprei uma Caloi 500, roxinha, linda, maravilhosa, que só espera uma cestinha pra completar seu visual Cycle Chic. Mas só ia ficar pronta na terça-feira, então eu tive uns dias de ansiedade a enfrentar pela frente. Pra ajudar, dei de cara com o livro Diários de Bicicleta, do David Byrne (Psycho Killer!) na entrada da Saraiva, piscando pra mim com um prefácio do Tom Zé. O Tom Zé eu conheci num show do auditório Ibirapuera com o meu amigo mais ciclista, o JP. Parecia impossível não ler o livro depois de tantas ciclocoincidências, e meus dias de ansiedade foram recheados das histórias do David Byrne conhecendo o mundo a pedaladas.

E numa bela quarta-feira de Agosto, eu fui buscar minha bicicleta, com meu bike anjo, o JP claro, e vim pedalando pra casa. E não foi fácil, foi difícil. No começo você pensa: equilíbrio, trânsito, segurança, fica esperta, motoristas de ônibus demoníacos, não vai fazer feio na frente do seu bike anjo, subida (mas por que eu to fazendo horas de academia, céus? Tenho certeza absoluta que meu professor de BIKEEE não simulou uma subida dessa na aula de RPM), ufa, desciiiida (qual freio eu uso, qual freio eu uso?!) marchas, marchas e suas 21 velocidades, onde estão vocês? E quando eu menos esperei, eu estava em casa! Mas por que foi que passou tão rápido, eu agüentava tudo de novo (menos a subida).

A primeira experiência que eu tive como ciclista devo confessar que foi o meu zelador pentelho e mal humorado. Que ele era tudo isso eu já sabia, mas que ele ia me impedir de guardar a bicicleta na garagem, não. Tudo bem, meu Plano B era perfeito, guardar a bicicleta na sacada enorme do apartamento, que no momento tem espaço de sobra, alem de espaço de sobra ocupado por coisas inúteis. Mas eu tinha esquecido que tem gente que tem preconceito. E não é que foi exatamente o que aconteceu com a minha Amelie, sofreu bullying a pobrezinha.

Começou comigo tentando convencer os porteiros de me ajudarem a convencer o zelador, e exceto o Seu Zé faxineiro, que levou bronca por abraçar minha causa e o porteiro da noite que me ajuda a equilibrar a Amelie no elevador toda noite desde então, ninguém ficou do meu lado. E o pior, todos tentaram me convencer de que não era nenhuma boa idéia eu sair por aí pedalando em São Paulo. E eu lembro que foi quando comecei a aumentar meu tom de voz: com isto eu não estou preocupada, eu estou segura de que posso pedalar tranquilamente. Eu estou preocupada sobre onde eu vou guardar minha bicicleta.

Tá Heloísa, mas você não disse que tinha um Plano B de guardar em casa. Pois é... se eu fosse o Julio Cesar teria gritado dramaticamente: Até tu Brutus! Dentro de casa também não estava parecendo que iam aceitar a minha bicicleta tão linda, e que estava consumindo e recarregando todos meus pensamentos positivos da semana. E quando me disseram: você devia ter falado com o zelador antes... eu aumentei meu tom de voz pela segunda vez em nome da Amelie: Mas isso não mudaria em nada o fato de que eu ia comprar a minha bicicleta. E foi mais do que ótimo! E a coisa boa, é que a outra morante que não havia visto a bicicleta ainda, amou a minha idéia, e pela primeira vez dentro da minha própria casa eu me senti apoiada pela iniciativa de ir pedalando pro trabalho. Eu nunca vou esquecer a sensação de alivio e alegria que esta pessoa me passou nesta quinta-feira, nunca vou poder agradecer o bastante, espero que um dia ela saiba disso.

Na sexta de manhã eu já estava pedalando sozinha pro trabalho, me sentindo a melhor pessoa do mundo. Parecia que eu não precisava ter tanto medo das coisas, elas dão certo, o que antes parecia super complexo e difícil, se transformou em: vai e pedala minha querida (mas vê se presta atenção na rua!).

Na volta pra casa na sexta feira, JP me arranjou um outro bike anjo, outra pessoa muito gentil que topou perder um tempinho pra me acompanhar em casa. E ainda me apelidou de cinderela, quando perdi a minha sapatilha vermelha de lacinho que voou no meio do caminho...

De novo, fui abrir minha boquinha em nome das pedaladas na Amelie, pedindo carona de bike anja no grupo de meninas que pedalam todo primeiro Sábado do mês, as Pedalinas. E obtive tantas respostas que confirmei o que eu pensava: ciclistas são uma espécie de ser humano que evoluíram para o tipo de pessoa que eu quero me tornar.

Não vou me arriscar a dizer que são melhores ou piores que qualquer outro tipo de espécie de ser humano, mas se eu idealizo o tipo de pessoa que eu quero ser, e as pessoas com quem quero estar, elas estão muito próximas de um ciclista que vive tentando ganhar seu espaço em São Paulo. E isso com certeza não tem a ver apenas com as pedaladas.

Muitas primeiras pedaladas, e infelizmente na volta pra casa na segunda feira, eu perdi o pedal da Amelie, que saiu voando enquanto eu terminava de subir a pior das subidas do nosso caminho. E o paciente JP bike anjo subiu comigo carregando a bike, já que depois de algumas diversas tentativas, concluímos (ta bom, ele concluiu sozinho) que o parafusinho do pedal espanou. Como eu não tenho carro para carregar a bike pro conserto, e embora o atendente português da bicicletaria tenha sugerido a remota chance de eu pedalar com uma só perna, meus amigos se ofereceram para carregar a Amelie. Primeiro o Gui, depois a Ná, e o próprio JP disse que carregava ela paralela com a bike dele, e no fim a fofa da Martinha! Isso prova outra teoria minha, que eu sou a pessoa mais sortuda do mundo, com os melhores amigos do mundo... e quero muito ser como eles um dia!

Então, o JP que também é meu twitter anjo, foi twittar para o Movimento Caloi sobre esta tragédia de segunda feira. E a esposa dele, a Evelyn, mandou ver junto com ele. E hoje até eu consegui ser cínica com o Movimento Caloi num twitter matinal... e me fez bem! Segundo o JP, em breve a bicicleta me transformará tanto que eu nem vou estar mais pedindo desculpa por tudo (sou capaz de pedir desculpa por existir).

E foi quando ele disse: Bicicleta transforma, que eu me toquei que eu queria contar sobre isso no blog que eu tinha “desativado”há quase um ano! Por que não? Por que não continuar escrevendo... e dessa vez divulgar pra um número maior de pessoas do que 4 (e pedir segredo eterno!).

E corro o grande risco de não ser compreendida por toda essa empolgação, mas definitivamente, nos últimos tempos andar de bicicleta foi a melhor iniciativa que eu tive. Se você não entendeu direito, ou acha que eu estou exagerando, eu recomendo a participação em uma Bicicletada , porque estando lá, com as pessoas que com certeza construirão um mundo melhor, você será tocado pela leveza na alma que bicicleta pode trazer pra você.

Pra quem está procurando um jeito de se tornar uma pessoa melhor, de ter uma vida melhor, de acordar com mais bom humor, de dar mais risadas, de sentir novas sensações, que acha que poderia lutar mais pelos seus direito de escolher o branco ao invés do preto e de ignorar a mente coletiva em busca de novas e outras opções(como cantariam os caras da segunda melhor banda do mundo) e, se você já cansou de ouvir os paulistanos reclamarem do trânsito em todas as situações, quando eles mesmo são o trânsito.....#vadebike!

Só acho um absurdo eu nunca ter feito isto antes!

domingo, 12 de setembro de 2010

As pessoas e as cidades

Neste feriado,voltando pra casa passando pela Marechal Rondon, ocorreu que era justo comentar que as melhores pessoas do mundo estão em qualquer cidade..... independente se ela toca o hino do Rei do Gado, se ela lembra as férias na casa da sua avó, ou se ela não tem limites e tem o melhor Bauru do mundo.... Como eu sempre digo... sou uma pessoa muito sortuda!

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O candidato perfeito e a monotonia dos anos nada rebeldes

Vamos partir da premissa de que eu entendo um pouquinho de política. E eu queira compartilhar minhas angústias eleitorais. 2010 tem sido um ano propício para isto. Afinal, não é sempre que o Tiririca promete que vai descobrir o que um deputado faz pra contar pra gente depois. Ou que o Batoré diz que a sua beleza é inferior a sua honestidade. Ou que uma funkeira(como é que se escreve exatamente esta palavra? ) com nome de fruta, que sabe ler e escrever (muito bom) são candidatos ao cargo de deputado.

Pior ainda, não é sempre que uma desconhecida que veio sabe se lá de onde e que, segundo testemunhos, tem mania de chamar a todos de incompetentes a um nível de decibéis não agradáveis ao ouvido humano, de repente, não mais que de repente é a presidenciável com maiores chances de se tornar a primeira mulher a governar o Brasil..

E ainda tem coisa pior, porque esta é a eleição onde a maioria das pessoas que estão interessadas o bastante para discutir política alegam não ter um candidato em quem votar. Com o carisma do Zé Serra e a dificuldade do PSDB em fazer uma boa campanha de oposição (sim, eu sei que vocês perceberam isso na hora em que leram Zé Serra), fica difícil acreditar que uma opção é melhor que a outra.

Uma luz lá no fim do túnel parecia ser a Marina Silva. Mas embora ela agrade muito a um público que realmente acredita que alguma coisa precisa mudar, ainda desconfia-se de que suas boas intenções não vão chegar a lugar a nenhum, seja por má assessoria, ou por um pouco de ingenuidade da candidata que defende uma postura sensível de princípios inabaláveis.

Mas é um ano mágico. O ano das eleições. Algumas pessoas realmente se importam. A maioria não se importa, mas sabe o numero pra votar no compositor do clássico da MPB que conta a história de Florentina de Jesus. E inspirada pelo John Cusack em Alta Fidelidade, vou enumerar os cinco causos interessantes sobre as eleições de 2010 no meu cotidiano:

5- Existe um candidato a deputado que chama Erô. E isto é particularmente bizarro porque meus melhores amigos do colégio, ainda em Andradina, costumavam me chamar assim apenas para me irritar durante as aulas.

4- Uma produtora de vídeos sorocabana que trabalha na campanha do Serra sentou ao meu lado no ônibus pra me contar sobre como ela odiava política, e pouco se importava com quem ia ganhar ou perder a eleição. Ela participa da campanha publicitária do Serra, o que pode explicar muitas coisas. O interessante para ela, embora ela pareça não se importar com a magnitude desta experiência, é que ela mora com um petista radical. Xiita.

3- Falar de política com motoristas de taxis virou um hobby divertido. Começou com uma tentativa frustada de encontrar aqueles que se interessavam pelo assunto. Mas dentre uma amostra de 10, podemos considerar que 3 taxistas se importam em falar de política. E não é que eles são muito engajados? Aliás, motoristas de taxis é um tema que merece um post exclusivo qualquer dia destes.

2- Ao discutir política com uns colegas de trabalho, relembramos a época do Collor. O bonitinho que roubou o dinheiro de todo mundo, causando efeitos colaterais como suicídio, ou infartos. E o Collor não foi necessariamente o mais interessante da conversa. Mas os cara pintadas. Será que um dia isso vai acontecer de novo, pra variar, será que existe alguma coisa nesse mundo que ainda faça o povo brasileiro sair nas ruas? Ouvi dizer certa vez que na Argentina eles saem nas ruas por qualquer coisa, bater panela para defender uma causa não é novidade. Eu fico lembrando o dia em que o Brasil ganhou do Chile nesta última copa, e a quantidade ínfima de pessoas comemorando nas ruas do país do futebol. Considerando que 10 entre 10 taxistas se importam com futebol.....

1- A única coisa da qual eu e minha mãe discordamos é a política. Isso era o que eu pensava. Até passarmos mais de uma hora do último fim de semana discutindo planos dos candidatos, governos neo liberais, governos petistas, o Brasil como uma empresa, o Brasil como uma mãe do povo.... e descobrimos ter a mesma opinião sobre política, só não existe ainda um candidato capaz de atender ao que achamos que seria o plano de governo perfeito. Existirá um dia um candidato perfeito?

Os Top 2 são os responsáveis pelo título deste texto. Ninguém mais se importa o bastante para exigir a mínima perfeição dos candidatos, ou muito menos dos escolhidos. Se o Brasil vai quebrar nos próximos anos, ou se a Floresta Amazônica vai acabar, isso não importa. Nada é motivo o suficiente para comover a massa, para fazer valer os direitos que temos.

A perfeição com certeza não está nos grupos terroristas como os alemães encabeçados pela dupla Baader-Meinhof contra o imperialismo capitalista. A perfeição não está em ataques como o do Osama Bin Laden em Setembro de 2001. E nem nos manifestos estudantis que trouxeram tantas mortes na ditadura militar. Mas há beleza e força quando as pessoas entendem o significado do coletivo e lutam juntos por uma causa, acreditando que sua atitude pode influenciar mudanças.

Pois é, nada mais de anos rebeldes. Mensalão? Tiririca e Batoré fazendo leis? Mulher Pêra em busca de uma posição equiparável à Mônica Levinsky? O Brasil é o país do futuro (e nem músicas rebeldes eles fazem mais!).

Pra terminar, a música que tocou no último episódio da minissérie do Gilberto Braga, Anos Rebeldes, quando o protagonista confessa à sua amada que ela tinha razão quando dizia que a canção Baby era, de fato, mais bonita do que Pra não dizer que não falei das flores. A musica final falava mais ou menos assim: Ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais.

domingo, 29 de agosto de 2010

O Jazz e as Cidades


A idéia era escrever uma retórica sobre como a afirmação seguinte me deixou de certa forma indignada: Jazz me lembra um velho intelectual, ou melhor, metido a intelectual, que pede uma pizza borrachuda, liga o som e toma um vinho; e ainda quer me convencer de que é feliz assim. Não posso ignorar que de fato, jazz lembra alguém tomando vinho, curtindo uma solidão ou algo parecido com isso. A retórica defenderia as pessoas que sabem conviver bem com a solidão, e que até almejam a solidão pontual desde que não estejam condicionadas a ela. E convenhamos que se fosse este o caso, e escolhessem o vinho, a pizza e o jazz como companhia, teriam feito o que me parece uma boa escolha.

Depois de um tempo, pareceu que a retórica era desnecessária, afinal, todo mundo sabe que gosto é gosto, que muitas vezes é bom estar sozinho, que ficar sozinho pra sempre deve ser chato, e que provavelmente a solidão crônica te transformaria num chato intolerante, que se tornaria intolerável, alguma coisa muito parecida com aquele personagem do Jack Nicholson que fica com a Ellen Hunt no final de Melhor é Impossível. Sim, ele também ganhou um Oscar por este filme, como era de se imaginar.

Mas então, se não houvesse mais retórica, eu não teria sobre o que escrever. Então pareceu conveniente começar o texto por ela. Porém, na verdade, se o objetivo é falar a minha opinião sobre o assunto, jazz não me lembra solidão. Jazz me lembra cinema, chapéus, Frank Sinatra, New Orleans, maturidade e bossa nova, é claro.

Muito pessoalmente (muito mesmo) jazz me lembra liberdade, sensação de sonhos se realizando. Foi há pouco tempo quando ouvi Nina Simone na rádio Alfa, dentro de um taxi que eu pensei: eu poderia gostar muito disso, vou começar a ouvir jazz. Engraçado, eu nunca tinha parado pra pensar nisso, embora sempre tenha me divertido ouvindo Ray Charles ou Madeleine Peyroux. Até em festivais de jazz eu já fui mais de uma vez, mas foi só neste dia, com sono e cansada no taxi, eu achei que seria interessante comprar um cd de jazz e curti-lo da maneira mais adequada possível (acredito que seja cozinhando, tenho isso comigo... cozinhar ao som de jazz parece uma boa pedida).

Claro, a última afirmação parece bastante retrógada, e qualquer um diria que alguém que pensa em comprar CDs, ao invés de usar algum descendente do Napster para puxar as músicas desejadas, é estranho, ou tem cinqüenta anos. E eu só tenho metade disto. Mas a sensação de comprar um cd, escutar dentro da loja, escolher cuidadosamente, e manter aquela caixinha, que muitas vezes é uma obra de arte, junto com a sua coleção de livros, DVDs e discos, é incomparável.

Ocorre que com este objetivo em mente, numa sexta feira exaustiva, passei na Livraria Cultura e pedi ajuda sobre os melhores CDs de jazz que eu poderia comprar. Tremendamente fantástico ficar ouvindo de Ella Fitzgerald a John Pizzareli num dos lugares mais agradáveis desta cidade.

Então, de repente, a liberdade de escolher um cd de jazz, voltar para casa e abrir um vinho ouvindo os CDs escolhidos têm um significado especial. É um destes momentos onde você para e pensa que as coisas estão exatamente onde deveriam estar.

E as cidades? Pra explicar isso melhor, vou precisar mudar um pouco de assunto. Falarei (e recomendarei) o filme Manhatan, do Woody Allen, que começa com o protagonista tentando escrever um livro sobre um homem que ama a cidade de Nova York. Em uma das tentativas, ele é genial: He was too romantic about NYC, as he was about everything else.

E por eu ser tão romântica sobre São Paulo, alguma coisa me faz crer que se eu estivesse em outro lugar, eu não teria a chance de passar por todo o processo de escolha, compra e entretenimento com o tal CD jazz que remete à tal liberdade sobre a qual eu falava em alguns parágrafos atrás.

Então o jazz deixa de ser uma questão de idade, e passa a virar questão de cidade. Porque na minha experiência com as cidades, em algumas cidades, com a minha idade você não teria a chance de curtir jazz. Nem em qualquer emissora de rádio, nem em qualquer loja de discos. Parece radical, mas é verdade; é verdade para mim.

E enquanto eu puder escolher ouvir jazz e ler um bom livro, comendo uma pizza e tomando vinho sozinha, numa sexta feira à noite, eu vou continuar acreditando que estou morando no melhor lugar do mundo.