segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O candidato perfeito e a monotonia dos anos nada rebeldes

Vamos partir da premissa de que eu entendo um pouquinho de política. E eu queira compartilhar minhas angústias eleitorais. 2010 tem sido um ano propício para isto. Afinal, não é sempre que o Tiririca promete que vai descobrir o que um deputado faz pra contar pra gente depois. Ou que o Batoré diz que a sua beleza é inferior a sua honestidade. Ou que uma funkeira(como é que se escreve exatamente esta palavra? ) com nome de fruta, que sabe ler e escrever (muito bom) são candidatos ao cargo de deputado.

Pior ainda, não é sempre que uma desconhecida que veio sabe se lá de onde e que, segundo testemunhos, tem mania de chamar a todos de incompetentes a um nível de decibéis não agradáveis ao ouvido humano, de repente, não mais que de repente é a presidenciável com maiores chances de se tornar a primeira mulher a governar o Brasil..

E ainda tem coisa pior, porque esta é a eleição onde a maioria das pessoas que estão interessadas o bastante para discutir política alegam não ter um candidato em quem votar. Com o carisma do Zé Serra e a dificuldade do PSDB em fazer uma boa campanha de oposição (sim, eu sei que vocês perceberam isso na hora em que leram Zé Serra), fica difícil acreditar que uma opção é melhor que a outra.

Uma luz lá no fim do túnel parecia ser a Marina Silva. Mas embora ela agrade muito a um público que realmente acredita que alguma coisa precisa mudar, ainda desconfia-se de que suas boas intenções não vão chegar a lugar a nenhum, seja por má assessoria, ou por um pouco de ingenuidade da candidata que defende uma postura sensível de princípios inabaláveis.

Mas é um ano mágico. O ano das eleições. Algumas pessoas realmente se importam. A maioria não se importa, mas sabe o numero pra votar no compositor do clássico da MPB que conta a história de Florentina de Jesus. E inspirada pelo John Cusack em Alta Fidelidade, vou enumerar os cinco causos interessantes sobre as eleições de 2010 no meu cotidiano:

5- Existe um candidato a deputado que chama Erô. E isto é particularmente bizarro porque meus melhores amigos do colégio, ainda em Andradina, costumavam me chamar assim apenas para me irritar durante as aulas.

4- Uma produtora de vídeos sorocabana que trabalha na campanha do Serra sentou ao meu lado no ônibus pra me contar sobre como ela odiava política, e pouco se importava com quem ia ganhar ou perder a eleição. Ela participa da campanha publicitária do Serra, o que pode explicar muitas coisas. O interessante para ela, embora ela pareça não se importar com a magnitude desta experiência, é que ela mora com um petista radical. Xiita.

3- Falar de política com motoristas de taxis virou um hobby divertido. Começou com uma tentativa frustada de encontrar aqueles que se interessavam pelo assunto. Mas dentre uma amostra de 10, podemos considerar que 3 taxistas se importam em falar de política. E não é que eles são muito engajados? Aliás, motoristas de taxis é um tema que merece um post exclusivo qualquer dia destes.

2- Ao discutir política com uns colegas de trabalho, relembramos a época do Collor. O bonitinho que roubou o dinheiro de todo mundo, causando efeitos colaterais como suicídio, ou infartos. E o Collor não foi necessariamente o mais interessante da conversa. Mas os cara pintadas. Será que um dia isso vai acontecer de novo, pra variar, será que existe alguma coisa nesse mundo que ainda faça o povo brasileiro sair nas ruas? Ouvi dizer certa vez que na Argentina eles saem nas ruas por qualquer coisa, bater panela para defender uma causa não é novidade. Eu fico lembrando o dia em que o Brasil ganhou do Chile nesta última copa, e a quantidade ínfima de pessoas comemorando nas ruas do país do futebol. Considerando que 10 entre 10 taxistas se importam com futebol.....

1- A única coisa da qual eu e minha mãe discordamos é a política. Isso era o que eu pensava. Até passarmos mais de uma hora do último fim de semana discutindo planos dos candidatos, governos neo liberais, governos petistas, o Brasil como uma empresa, o Brasil como uma mãe do povo.... e descobrimos ter a mesma opinião sobre política, só não existe ainda um candidato capaz de atender ao que achamos que seria o plano de governo perfeito. Existirá um dia um candidato perfeito?

Os Top 2 são os responsáveis pelo título deste texto. Ninguém mais se importa o bastante para exigir a mínima perfeição dos candidatos, ou muito menos dos escolhidos. Se o Brasil vai quebrar nos próximos anos, ou se a Floresta Amazônica vai acabar, isso não importa. Nada é motivo o suficiente para comover a massa, para fazer valer os direitos que temos.

A perfeição com certeza não está nos grupos terroristas como os alemães encabeçados pela dupla Baader-Meinhof contra o imperialismo capitalista. A perfeição não está em ataques como o do Osama Bin Laden em Setembro de 2001. E nem nos manifestos estudantis que trouxeram tantas mortes na ditadura militar. Mas há beleza e força quando as pessoas entendem o significado do coletivo e lutam juntos por uma causa, acreditando que sua atitude pode influenciar mudanças.

Pois é, nada mais de anos rebeldes. Mensalão? Tiririca e Batoré fazendo leis? Mulher Pêra em busca de uma posição equiparável à Mônica Levinsky? O Brasil é o país do futuro (e nem músicas rebeldes eles fazem mais!).

Pra terminar, a música que tocou no último episódio da minissérie do Gilberto Braga, Anos Rebeldes, quando o protagonista confessa à sua amada que ela tinha razão quando dizia que a canção Baby era, de fato, mais bonita do que Pra não dizer que não falei das flores. A musica final falava mais ou menos assim: Ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais.

domingo, 29 de agosto de 2010

O Jazz e as Cidades


A idéia era escrever uma retórica sobre como a afirmação seguinte me deixou de certa forma indignada: Jazz me lembra um velho intelectual, ou melhor, metido a intelectual, que pede uma pizza borrachuda, liga o som e toma um vinho; e ainda quer me convencer de que é feliz assim. Não posso ignorar que de fato, jazz lembra alguém tomando vinho, curtindo uma solidão ou algo parecido com isso. A retórica defenderia as pessoas que sabem conviver bem com a solidão, e que até almejam a solidão pontual desde que não estejam condicionadas a ela. E convenhamos que se fosse este o caso, e escolhessem o vinho, a pizza e o jazz como companhia, teriam feito o que me parece uma boa escolha.

Depois de um tempo, pareceu que a retórica era desnecessária, afinal, todo mundo sabe que gosto é gosto, que muitas vezes é bom estar sozinho, que ficar sozinho pra sempre deve ser chato, e que provavelmente a solidão crônica te transformaria num chato intolerante, que se tornaria intolerável, alguma coisa muito parecida com aquele personagem do Jack Nicholson que fica com a Ellen Hunt no final de Melhor é Impossível. Sim, ele também ganhou um Oscar por este filme, como era de se imaginar.

Mas então, se não houvesse mais retórica, eu não teria sobre o que escrever. Então pareceu conveniente começar o texto por ela. Porém, na verdade, se o objetivo é falar a minha opinião sobre o assunto, jazz não me lembra solidão. Jazz me lembra cinema, chapéus, Frank Sinatra, New Orleans, maturidade e bossa nova, é claro.

Muito pessoalmente (muito mesmo) jazz me lembra liberdade, sensação de sonhos se realizando. Foi há pouco tempo quando ouvi Nina Simone na rádio Alfa, dentro de um taxi que eu pensei: eu poderia gostar muito disso, vou começar a ouvir jazz. Engraçado, eu nunca tinha parado pra pensar nisso, embora sempre tenha me divertido ouvindo Ray Charles ou Madeleine Peyroux. Até em festivais de jazz eu já fui mais de uma vez, mas foi só neste dia, com sono e cansada no taxi, eu achei que seria interessante comprar um cd de jazz e curti-lo da maneira mais adequada possível (acredito que seja cozinhando, tenho isso comigo... cozinhar ao som de jazz parece uma boa pedida).

Claro, a última afirmação parece bastante retrógada, e qualquer um diria que alguém que pensa em comprar CDs, ao invés de usar algum descendente do Napster para puxar as músicas desejadas, é estranho, ou tem cinqüenta anos. E eu só tenho metade disto. Mas a sensação de comprar um cd, escutar dentro da loja, escolher cuidadosamente, e manter aquela caixinha, que muitas vezes é uma obra de arte, junto com a sua coleção de livros, DVDs e discos, é incomparável.

Ocorre que com este objetivo em mente, numa sexta feira exaustiva, passei na Livraria Cultura e pedi ajuda sobre os melhores CDs de jazz que eu poderia comprar. Tremendamente fantástico ficar ouvindo de Ella Fitzgerald a John Pizzareli num dos lugares mais agradáveis desta cidade.

Então, de repente, a liberdade de escolher um cd de jazz, voltar para casa e abrir um vinho ouvindo os CDs escolhidos têm um significado especial. É um destes momentos onde você para e pensa que as coisas estão exatamente onde deveriam estar.

E as cidades? Pra explicar isso melhor, vou precisar mudar um pouco de assunto. Falarei (e recomendarei) o filme Manhatan, do Woody Allen, que começa com o protagonista tentando escrever um livro sobre um homem que ama a cidade de Nova York. Em uma das tentativas, ele é genial: He was too romantic about NYC, as he was about everything else.

E por eu ser tão romântica sobre São Paulo, alguma coisa me faz crer que se eu estivesse em outro lugar, eu não teria a chance de passar por todo o processo de escolha, compra e entretenimento com o tal CD jazz que remete à tal liberdade sobre a qual eu falava em alguns parágrafos atrás.

Então o jazz deixa de ser uma questão de idade, e passa a virar questão de cidade. Porque na minha experiência com as cidades, em algumas cidades, com a minha idade você não teria a chance de curtir jazz. Nem em qualquer emissora de rádio, nem em qualquer loja de discos. Parece radical, mas é verdade; é verdade para mim.

E enquanto eu puder escolher ouvir jazz e ler um bom livro, comendo uma pizza e tomando vinho sozinha, numa sexta feira à noite, eu vou continuar acreditando que estou morando no melhor lugar do mundo.