terça-feira, 30 de agosto de 2011

Nós, meio intelectuais, meio esportistas



Em homenagem a Marina Rodrigues, pequena Marina, que me presenteou neste belo domingo com os textos inteligentes, divertidos, meio intelectuais e meio de esquerda do Antônio Prata.

Já diziam os gregos, que inventaram a filosofia, e também as olimpíadas, mente sã e corpo são (embora eu tenha dúvidas sobre eles terem dito isso mesmo). Hoje, enquanto subia com a minha Amélie pelas tortuosas subidas da Apinajés, e tentava soltar o freio o suficiente para eu não capotar nas íngremes descidas da mesma ruazinha (demônia) a caminho da casa de uma querida amiga, me dei conta que eu fazia parte de um grupo feliz, os meio intelectuais meio esportistas.

Nós, meio intelectuais, meio esportistas sentimos essa necessidade absurda de relatar e explicar com palavras todos os eventos, esportistas ou não, da nossa vida. Por isso a gente cria um blog, ou compra um diário, num caso de sermos um tímido intelectual esportista.

Nós damos nomes de heroínas de filmes franceses para as nossas bicicletas, corremos na esteira da academia ouvindo Lenine, Secos e Molhados, Queen e Los Hermanos (e Beatles é claro!), e provavelmente somos vegetarianos. Ou semi vegetarianos. E dependendo do público alvo, a gente justifica o fato de não comer carne por estarmos preocupados com nossa saúde e longevidade, ou assumimos como que num desabafo que na verdade a gente tá cansado de observar o crescimento preocupante do desmatamento no Cerrado ( sim, é tão importante quanto a Amazônia- e a Caatinga- claro) por conta da pecuária, que além de desmatar e contribuir pro efeito estufa, ainda é uma crueldade com os animais. Ó, seres humanos egocêntricos antropocêntricos e sem o menor bom senso. Sim meus caros, nós, meio intelectuais meio esportistas somos muito ambientalistas.

Mas é claro que nós meio intelectuais, meio esportistas não estamos tão preocupados com os impactos ambientais da gestão inadequada da água nas cervejarias numa sexta feira a noite num bar da Augusta. Afinal, como conseqüência da nossa metade intelectual, somos completamente a favor da boemia. E nos consideramos uma parcela invejável da população que sabe combinar muito bem a saúde com o nível alcoólico adequado em ocasiões necessárias, como happy hours, barzinho com os amigos, passeios de fim de semana pela Paulista, num Sábado a tarde na Benedito Calixto, ou em qualquer manifestação de cunho intelectual, ou cunho ambientalista, churrasquinhos vegetarianos, churrasquinhos normais que têm mandioca, noite do vinho e queijos, jantar com amigos, enfim. Há sempre uma boa oportunidade para a boemia saudável em nossas vidas. No dia seguinte, não tem nada mais revigorante que tomar uma hidratante água de côco.

Nós meio intelectuais meio esportistas também achamos que bar ruim é lindo. Mais do que isso, achamos que pra dançar a gente não precisa ir pra uma balada eletrônica que custa caro, onde os esportistas usam camiseta baby look para mostrar seu empenho, e as esportistas mini saiais ousadas pra mostrar que estão com a dieta em dia. Somos meio esportistas pelo estilo de vida, e não pela bundinha sarada, e desprezamos qualquer julgamento por conta da aparência. A gente gosta de sambar, dançar forró, bater a cabeça em show de rock, e acredita que o boteco mais escondido da Vila Madalena tocando Chico Buarque é um programa eletrizante que pode durar a noite toda.

O ápice ideológico ativista de um meio intelectual, meio esportista é a descoberta da bicicleta. De bicicleta pelo caos da cidade grande, nós, meio intelectuais, meio esportistas sentimos que estamos fazendo algo para mudar o mundo. Sobre as duas rodinhas da nossa bike, a qual damos nomes divertidos, inteligentes, intelectuais ou piadísticos, sentimos que estamos jogando na cara da British Petroleum que somo muito mais poderosos do que ela, sentimos que estamos um passo a frente dos motoristas congestionados parados no trânsito (Metaforicamente. Literalmente, normalmente estamos muitos passos à sua frente) e que além de tudo estamos ficando mais velhos com mais saúde, e vivendo a vida com muito mais adrenalina. De bicicleta nós, meio intelectuais, meio esportistas, sentimos que estamos lutando no coletivo contra um sistema capitalista que não funciona, e de repente, a gente sente vontade de que todos no mundo se sintam meio intelectuais, meio esportistas e principalmente meio ciclistas. Sim, nós meio intelectuais, meio esportistas também somos meio de esquerda.

E por fim, as últimas considerações que me vêm à cabeça sobre o meu grupo imaginário dos meio intelectuais, meio esportistas é que eles são ótimas companhias para quaisquer tipo de meio intelectuais pois estão sempre cheios de energia (e quem não é meio intelectual hoje em dia?). Mas só um legítimo meio intelectual meio esportista é capaz de passar tanta tempo pensando em um tema bom o suficiente para escrever um texto que lembre um cronista meio intelectual meio de esquerda enquanto enfrenta uma íngreme subida na capital paulistana em cima de sua bicicleta. E chega em casa cansado mas tinindo, trincando (Ah, os velhos Novos Baianos!), certo de que teve uma idéia genial no caminho, liga a TV e deixa no Telecine Cult, e escreve um texto sobre os meio intelectuais meio esportistas, enquanto ouve as músicas melosas do único filme musical do Woody Allen- onde aparece um monte de ator famoso dançando, cantando e até voando.

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